segunda-feira, 26 de março de 2012

os dedos bordam movimentos

De dentro do poema A rima Me espera e espera a hora de se entregar Me espreita Me incita Se abre Se solta como uma prece.
S.G.

terça-feira, 6 de março de 2012

'Poesia é ouro sem valia.'

De quando em vez, vem um poeta jovem me pedir que lhe consiga uma editora para publicar seu livro de estreia. Só estando com a cabeça na lua para pretender uma coisa dessas. Para consola-o costumo citar o exemplo de poetas, hoje consagrados, que tiveram que publicar seu primeiro livro a sua própria custa. mas tem que ser assim mesmo, já que LIVRO DE POESIA VENDE POUCO E DE POETA DE DESCONHECIDO NÃO VENDE NADA. nenhum editor, em seu juízo perfeito, entra numa fria dessas.
lembrei-me disso ao escrever um texto sobre Manuel Bandeira e mais uma vez deparei-me com o assunto. A edição do seu primeiro livro de poemas 'a Cinza das Horas', foi paga por ele; a do segundo, 'Carnaval', a mesma coisa. Só vários anos depois, teve um livro lançado por uma editora.
E Carlos Drummond de Andrade? Seu primeiro livro, 'Alguma Poesia', apareceu como lançado pelas Edições Pindorama, que não existia, por ter sido, na verdade, impresso na Imprensa Oficial do Estado de Minas Gerais e pago pelo poeta em suaves prestações, descontados do seu salário. o segundo livro, 'Brejo das Almas', saiu por uma cooperativa; o terceiro, 'sentimento do Mundo, ele pagou do seu bolso e distribuiu toda a edição (150 exemplares) entre amigos e escritores. Só o quarto livro- aos 40 anos de idade- foi lançado por uma editora,a José Olympo, que passou a editá-lo.
mas estes são apenas uns poucos exemplos, entre os quais poderia incluir-me, pois não teria editado meu primeiro livro se não fosse a ajuda de minha mãe. O segundo livro, paguei do meu bolso. Só tive um livro de poemas lançado por uma editora - que faliu em seguida- 13 anos após minha estreia. Acolhido por uma editora importante, somente 30 anos depois.
COM A POESIA É ASSIM MESMO. e NÃO SÓ POR VENDER POUCO; TAMBÉM PORQUE, NO FUNDO, O POETA SABE QUE NÃO ESCREVE PARA VENDER....

Ferreira Gullar, Jornal folha de são Paulo, 4 de Março de 2012.