terça-feira, 29 de novembro de 2011

que eu ja tenho asas...

Passava os dias ali, quieto, no meio das coisas miúdas.
E me encantei.

(Manoel de Barros)
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Da solidão


com o básico,
silêncio de pássaro.
barulho só de chuva

e ouvir o silêncio
até silenciar por dentro
e poder gritar
e de novo inteira
voltar ao que veio
e cantar com o vento.

nas coisas miúdas
a grandeza do ser
de ser
e de querer
o seu querer.

o que não se apara
na mão ficou aqui
e ouve comigo
a canção.

Silvana Gonçalves

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

'Evitemos a morte em doses suaves...'

Morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito, repetindo todos os dias os mesmos trajetos, quem não muda de marca, não se arrisca a vestir uma nova cor ou não conversa com quem não conhece.
Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru.
Morre lentamente quem evita uma paixão, quem prefere o negro sobre o branco e os pontos sobre os “is” em detrimento de um redemoinho de emoções, justamente as que resgatam o brilho dos olhos, sorrisos dos bocejos, corações aos tropeços e sentimentos.
Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz com o seu trabalho, quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho, quem não se permite pelo menos uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos.
Morre lentamente quem não viaja, quem não lê, quem não ouve música, quem não encontra graça em si mesmo.
Morre lentamente quem destrói o seu amor-próprio, quem não se deixa ajudar.
Morre lentamente, quem passa os dias queixando-se da sua má sorte ou da chuva incessante.
Morre lentamente, quem abandona um projeto antes de iniciá-lo, não pergunta sobre um assunto que desconhece ou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe.
Evitemos a morte em doses suaves, recordando sempre que estar vivo exige um feito muito maior que o simples fato de respirar. Somente a ardente paciência fará com que conquistemos uma esplêndida felicidade.

Pablo Neruda

'A saudade não é um bom relógio..'

Dia dos nossos mortos.
Nossos mortos..Parece piada
Vi a morte de perto e realmente ela estava viva.
É um suspiro mau dado, .
Um intervalo de ar errado e ela se instala.
Durante um tempo, negava a morte como sendo algo próximo. Não, comigo não.
Daí fui perdendo pessoas.
Vô, vó, uma tia, uma amiga, outra amiga,.e quando já tava quase me acostumando com a dona morte, ela veio e levou minha mãe, numa manhã de sábado.
Procuro até agora uma explicação. Não essa que todos temos: que é a ordem natural, que descansou, que foi morar com Deus..Não, procuro uma explicação mais convincente porque é meu coração que pede respostas.
E não tenho. Não tem explicação pra uma ausência doer tanto. E se é de amor que se alimenta essas saudades, há..quantas saudades .
Com a morte aprendi que a vida está viva.
Que cada dia é único e tem um valor inestimável.
Não escolho ser alegre ou triste pelo exterior das coisas, ou só em datas especiais. Não! Depois que vi a morte chegar, aproveito a vida.
O amor não diminuiu com a morte ,a saudade aumenta a cada dia.
E hoje como numa prece, penso nos meus mortos como anjos de luz.
Talvez sorrindo lá de longe pra mim .
Talvez também sedentos de um abraço.
Talvez também com saudades de mim.

*faz um tempo eu quis fazer uma canção pra você viver mais...*

SiL.