quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Drummond!

Pois de amor andamos todos precisados, em dose tal que nos alegre, nos humanize, nos corrija, nos dê paciência e esperança, força, capacidade de entender, perdoar, ir para a frente. Amor que seja navio, casa, coisa cintilante, que nos vacine contra o feio, o errado, o triste, o mau, o absurdo e o mais que estamos vivendo ou presenciando.

Carlos Drummond de Andrade

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Qualquer semelhança não é mera coincidência.

Era uma vez um bando de águias que vivia numa bela cordilheira. Elas levavam uma existência descuidada e feliz, em meio a uma abundância de alimentos naturais nos bosques e regatos em volta. Passavam os dias em vôos altaneiros e em pacíficos prazeres. Lá embaixo na seca planície, porém, vivia um bando de inteligentes gralhas. Comerciantes por ocupação, as gralhas haviam investido dinheiro na plantação de milho de baixa qualidade. Olhando em tomo à procura de fregueses potenciais, viram as águias revoluteando nas alturas. "Vamos vender-lhes milho", passou a ser o grito de guerra das gralhas enquanto planejavam os argumentos. "Embrulhe o milho num belo pacote", sugeriu uma delas. "Vamos tomar as águias dependentes de nós", aconselhou outra. "Mais importante ainda", ponderou uma terceira, muito hábil na venda de milho, "vamos convencê-las de que o nosso milho não constitui simplesmente uma necessidade, . mas é absolutamente indispensável. Vamos convencê-las de que, sem milho, elas se sentirão solitárias, abandonadas, perdidas. Um bom começo é fazê-las desenvolver um sentimento de culpa. Vamos fazê-las sentirem-se culpadas por ignorarem o nosso milho... e as teremos no papo!" Bem, as águias eram bastante inteligentes, mas um tanto displicentes nos seus pensamentos. Embora se mostrassem inicialmente cautelosas, o milho parecia muito bom. Além disso, economizava-lhes o esforço de procurar comida. Por isso mesmo, foram deixando aos poucos as alturas e descendo cada vez mais até o milharal. Naturalmente, quanto menos voavam, menos vontade sentiam de voar. Ficando com as asas enfraquecidas, foram obrigadas a pular desajeitadamente pelo chão. Disto resultaram colisões frequentes entre si, seguidas de numerosas brigas. Havia, porém, uma águia que não apenas via longe, mas tinha também visão interior. Percebeu que havia algo de profundamente errado em toda essa história. Além disso, o milho simplesmente não tinha bom sabor. No dia em que tentou convencer as amigas a voltarem às montanhas, as gralhas a ridicularizaram e a chamaram de criadora de casos. Acreditando nas gralhas, as águias passaram a evitar a antiga amiga. E assim, quanto mais milho as gralhas vendiam, mais milho as águias engoliam. Algo, porém, ocorrera às outroras altaneiras rainhas das aves. Queixavam-se amargamente. Andavam nervosas e irritáveis. Sentiam-se solitárias, abandonadas, perdidas. Às vezes, lembravam-se do lar nas montanhas, mas não podiam recordar-se do caminho de volta. Simplesmente viviam mal- humoradas, esperando que surgisse algo de melhor, o que jamais acontecia. Cansando-se de tudo isso, a águia perspicaz analisou-se cuidadosamente. Descobrindo as asas, experimentou-as. Funcionaram! E afastou-se voando, de volta às montanhas. Da alvorada ao anoitecer descrevia círculos sobre o seu mundo, descuidada e feliz.  De igual maneira, qualquer homem, cansado de tudo, pode levantar vôo em direção à liberdade e felicidade naturais.

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Torne-se um lago!

O velho Mestre pediu a um jovem triste que colocasse uma mão cheia de sal em um copo d’água e bebesse.
- Qual é o gosto? – perguntou o Mestre.
- Ruim – disse o aprendiz.
O Mestre sorriu e pediu ao jovem que pegasse outra mão cheia de sal e levasse a um lago.
Os dois caminharam em silêncio e o jovem jogou o sal no lago; então, o velho disse:
- Beba um pouco dessa água.
Enquanto a água escorria do queixo do jovem, o Mestre perguntou:
- Qual é o gosto?
- Bom! – disse o rapaz.
- Você sente o gosto do sal? – perguntou o Mestre.
- Não! – disse o jovem.
O Mestre então sentou ao lado do jovem, pegou sua mão e disse:
- A dor na vida de uma pessoa é inevitável. Mas o sabor da dor depende de onde a colocamos. Então, quando você sofrer, a única coisa que você deve fazer é aumentar a percepção das coisas boas que você tem na vida.
Deixe de ser um copo. Torne-se um lago.

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Meu corpo, meu amor!! AhoW!

Quando curo
meus pensamentos,
em meu corpo ...
a cura acontece...
Quando tenho
pensamentos sadios,
meu corpo
agradece...
Dos pensamentos
que alimento
das emoções,
que cultivo,
dos sentimentos
que expresso
meu corpo
...é puro reflexo.
Templo sagrado
onde habita
...um ser amado.
É pura luz
é sagrado
é perfeição...
Mente sadia,
corpo são...
milagre
...da Criação...

Denis-Ahow!

Bom dia, poesia!

Por viver muitos anos
dentro do mato
Moda ave
O menino pegou
um olhar de pássaro -...
Contraiu visão fontana.
Por forma que ele enxergava
as coisas
Por igual
como os pássaros enxergam.
As coisas todas inominadas.
Água não era ainda a palavra água.
Pedra não era ainda a palavra pedra. E tal.
As palavras eram livres de gramáticas e
Podiam ficar em qualquer posição.
Por forma que o menino podia inaugurar.
Podia dar as pedras costumes de flor.
Podia dar ao canto formato de sol.
E, se quisesse caber em um abelha, era só abrir a palavra abelha
e entrar dentro dela.
Como se fosse infância da língua.



|Manoel de Barros - Poemas Rupestres|

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Bom dia, poesia!


'entre o sono e o sonho,
entre mim e o que
em mim e o quem
eu me suponho
corre um rio
sem fim.'

Fernando Pessoa.