domingo, 20 de dezembro de 2009



“Nunca ouviram falar do insensato que acendia uma lanterna em pleno dia e corria pela praça do mercado gritando sem parar:
“Procuro Deus! Procuro Deus!”.
E como havia ali muitos daqueles que não acreditavam em Deus, ele provocou grande riso.
“Ter-se-á afastado”, dizia um. “Ter-se-á perdido como uma criança?”, dizia outro. “Estará escondido? Terá medo de nós? Terá embarcado? Terá emigrado?” – assim gritavam e riam todos ao mesmo tempo.

O insensato saltou no meio deles e trespassou-os com o olhar.
“Onde está Deus?, exclamou, “é o que vou lhes dizer! Nós o matamos – vocês e eu! Nós todos somos seus assassinos! Mas como fizemos isso? Como pudemos esvaziar o mar? Quem nos deu a esponja para apagar o horizonte? Que fizemos para quebrar a corrente que ligava esta terra a seu sol?… Aquilo que o mundo possuía até então de mais sagrado e mais poderoso perdeu seu sangue sob nossas facas – quem limpará esse sangue de nossas mãos?”.

Friedrich Nietzsche . A Gaia Ciência.

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