quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Qualquer semelhança não é mera coincidência.

Era uma vez um bando de águias que vivia numa bela cordilheira. Elas levavam uma existência descuidada e feliz, em meio a uma abundância de alimentos naturais nos bosques e regatos em volta. Passavam os dias em vôos altaneiros e em pacíficos prazeres. Lá embaixo na seca planície, porém, vivia um bando de inteligentes gralhas. Comerciantes por ocupação, as gralhas haviam investido dinheiro na plantação de milho de baixa qualidade. Olhando em tomo à procura de fregueses potenciais, viram as águias revoluteando nas alturas. "Vamos vender-lhes milho", passou a ser o grito de guerra das gralhas enquanto planejavam os argumentos. "Embrulhe o milho num belo pacote", sugeriu uma delas. "Vamos tomar as águias dependentes de nós", aconselhou outra. "Mais importante ainda", ponderou uma terceira, muito hábil na venda de milho, "vamos convencê-las de que o nosso milho não constitui simplesmente uma necessidade, . mas é absolutamente indispensável. Vamos convencê-las de que, sem milho, elas se sentirão solitárias, abandonadas, perdidas. Um bom começo é fazê-las desenvolver um sentimento de culpa. Vamos fazê-las sentirem-se culpadas por ignorarem o nosso milho... e as teremos no papo!" Bem, as águias eram bastante inteligentes, mas um tanto displicentes nos seus pensamentos. Embora se mostrassem inicialmente cautelosas, o milho parecia muito bom. Além disso, economizava-lhes o esforço de procurar comida. Por isso mesmo, foram deixando aos poucos as alturas e descendo cada vez mais até o milharal. Naturalmente, quanto menos voavam, menos vontade sentiam de voar. Ficando com as asas enfraquecidas, foram obrigadas a pular desajeitadamente pelo chão. Disto resultaram colisões frequentes entre si, seguidas de numerosas brigas. Havia, porém, uma águia que não apenas via longe, mas tinha também visão interior. Percebeu que havia algo de profundamente errado em toda essa história. Além disso, o milho simplesmente não tinha bom sabor. No dia em que tentou convencer as amigas a voltarem às montanhas, as gralhas a ridicularizaram e a chamaram de criadora de casos. Acreditando nas gralhas, as águias passaram a evitar a antiga amiga. E assim, quanto mais milho as gralhas vendiam, mais milho as águias engoliam. Algo, porém, ocorrera às outroras altaneiras rainhas das aves. Queixavam-se amargamente. Andavam nervosas e irritáveis. Sentiam-se solitárias, abandonadas, perdidas. Às vezes, lembravam-se do lar nas montanhas, mas não podiam recordar-se do caminho de volta. Simplesmente viviam mal- humoradas, esperando que surgisse algo de melhor, o que jamais acontecia. Cansando-se de tudo isso, a águia perspicaz analisou-se cuidadosamente. Descobrindo as asas, experimentou-as. Funcionaram! E afastou-se voando, de volta às montanhas. Da alvorada ao anoitecer descrevia círculos sobre o seu mundo, descuidada e feliz.  De igual maneira, qualquer homem, cansado de tudo, pode levantar vôo em direção à liberdade e felicidade naturais.

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