segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Eu quero meu corpo de passarinho...

Nasci errado, quer dizer, em corpo errado.
Não sei se me entenderam.
Também não entendia, entendi hoje cedo.
Eu sou passarinho que um desses Deuses que a Homem inventou ou a Mãe Natureza que dessa vez errou e bom, deu nisso. Uma pessoa que tem certeza que é um passarinho. Hoje cedinho, junto com o sol vindo, olhando pr’uma nuvem e prás árvores ali pertinho, descobri que sou mesmo é passarinho. Encarnei errado e vim na forma de vocês.
Explicado o fato de colecionar pedras desde lá de cedo.
Ou não?
Explicado um monte de fatos que agora não tem relevância. Que não tem importância.
Ou não?
Eu acho que só pode ser isso, é a única explicação pra essa minha existência que as gentes grandes acham torta. que eu não sou do jeito deles, que eu devia ser igual. mas não vejo lógica, não vejo porque. Hoje cedinho me achei: sou passarinho.
Deve ser isso. Só pode ser isso.
Eu sou passarinho e pode saber que tem um de vocês apertado, pobre coitado, no corpo de um passarinho. Talvez no corpo de um pardal ou num tiê sangue. Talvez ele também descubra que não é passarinho e queira voltar a ser gente, pisar no chão, parar com isso de cantar por ai, contente...
Bem, isso não importa.
Quero saber da troca.
Sou passarinho e quero meu corpo certo, também coitado do cara lá num galho, pessoas não voam.
Isso eu descobri hoje cedo.
E delas, os que teimam em voar, são uns tipos estranhos que não se encaixam, uns tipos que preferem mais do que lhes é oferecido em bandeja. Mas esses são poucos, espalham aqui e ali, mas o sistema de vocês é muito bruto e eu não quero e não posso fazer parte disso.
Hoje entendi,
sou passarinho.
A quem interessar possa, um favor, faço a troca da minha casa por um ninho.

Silvana Gonçalves

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