sexta-feira, 8 de junho de 2012

Eu entendi..

Enquanto tentava adivinhar a direção do vento pelos desenhos formados pelas nuvens ia pensando no bicho homem e seus medos.


Passarinho voa baixo ali por perto, buscando alimento ou talvez atenção.

Agora não. Agora estou ocupada com as nuvens.

Era fácil um passarinho me roubar a atenção. Sempre largava o que estava fazendo e me prostrava à mercê do pássaro da vez, estudando os modos, o canto, vendo a cor, o tamanho.

Dessa vez, nuvens.

E a que agora pouco parecia uma bomba atômica mudava agora de figura e se via de maneira clara um monstro tomando formas ou as formas tornando-se um monstro.

Já não sabia.

E o vento?

A direção.

Não importava, agora pensava em monstros.

Me lembrei dos primeiros medos, lá de trás e dos derradeiros, acompanhados até agora pouco de perto. Mas agora queria pensar nos monstros. Também já tive vários monstros.

Os primeiros monstros vinham com o escuro, com o chegar da noite e sua par, a lua. Vinham todos acompanhados de proibições, avisos, ponderações. Como as pessoas que falavam dos tais monstros eram queridas, devia ser verdade.

Depois que descobri que nada de Papai Noel ou Coelhinho da Páscoa, mesmo todos os anos eles reaparecendo e agora levando o subtítulo de feriados. Comecei a desconfiar seriamente da legitimidade dos tais monstros, principalmente a do Bicho Papão. Desconfiava do Anjinho da Guarda também, mas quem era eu.

E se fosse pecado.

Com o tempo os monstros foram outros e levavam nomes distintos. Sim, os monstros tinham várias formas, vários nomes e tamanhos. E eram tantos em uma determinada época que pensava ser quase que regra conviver com eles até não mais viver.

Um dia do nada, vendo a cara do último monstro ao não lhe dar tanta importância e vê-lo assim diminuindo de tamanho, até já não significar nada foi que saquei a charada .

Os monstros estavam pra mim assim como as fadas.

Era uma escolha.

Neste dia, parei de alimentar os monstros internos e os externos já não metiam medo.

Neste dia, percebi que a importância dada a tantos monstros lá atrás deveriam ser esquecidas, sim, além dos monstros em si, era importante eu esquecer também o tempo que perdi os alimentando.

Primeiro, parei de procurar os tais monstros no escuro, no fundo do quintal abandonado do vizinho, no cemitério e no depósito da velha casa.

Depois parei de inventá-los do lado de fora: não eram os outros, não era o lugar, não eram as condições, não era nada.

Bem verdade que só parei de inventá-los quando vi que eles saíam de mim, aos quilos, aos montes. Era me livrar de um monstro e já aparecia outro.

Então no dia da sacada, cortei o alimento pros monstros, minha imaginação fértil teria outras habilidades.

E eles pararam de existir, debaixo da minha cama e por dentro, se é que vocês me entendem. Eu naquele dia (e talvez em outros) entendi.



Silvana Gonçalves



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